No interior do meu Estado
Vencendo tempo e distância,
Nos retratos das estâncias
Entre campos e povoados,
Vejo o bronze do passado
Que resume a trajetória,
E sintetiza a memória
- Tapada de atavismo -
Que mesclou o gauchismo
Ao cerne da nossa história.
Não são usos importados
Cada um veio de herança:
O traje, o mate, a dança,
Rodeio, e verso rimado...
É o sangue antepassado
Pulsante em cada artéria,
Que as rotas deletérias
Das confrarias tropeiras
Trouxeram pelas fronteiras
Forjando a raça gaudéria.
Por quase trezentos anos
Fomos rota de passagem,
No vai-e-vem das viagens
Dos sentinelas vaqueanos;
E no piquete veterano
De cada era maldita,
Restou a memória aflita
Dos jovens da nossa terra
Deitando sangue na guerra,
Honrando a força de Anita.
O tempo veio e passou,
E cá ficamos esquecidos.
Mas os valores aprendidos
Que o gaúcho nos legou,
A memória resguardou
Num costume hereditário.
- É o sinal identitário -
Da crioula comunhão,
E que fez do chimarrão
O mais rude relicário.
Na primavera, um dia,
Há um cortejo que se agita,
E o Rio Grande ressuscita
No culto da nostalgia!
Renasce a simbologia
Da velha gesta ancestral,
É a ronda cultural
Do Lessa, e do Paixão,
Que reforja a Tradição
Do gaúcho primordial.
E a Tradição se alastrou
Na extensão do Continente...
Encantando tanta gente
Ao mostrar o que achou,
Mas aqui quando chegou
Com “coisas de antigamente”,
Percebeu meio descrente
Que os “achados” do passado
Andaram sempre mesclados
Nos usos da nossa gente.
E o biriva bombeador
Que ficou guardando posto,
Da Tradição tomou gosto
Se tornou seu defensor,
E ao longo de um corredor
Fez surgir em três momentos
As loncas de um mesmo tento
A quem tributo homenagens,
Pra depois se unir nas Lagens
Num só Povo e Movimento.
Sustentando os ideais
Levando nossa bandeira,
Do Litoral à Fronteira
E da Serra aos Pinheirais;
Pelos campos ancestrais
Que o biriva povoou,
A Tradição se alargou
- Hoje une nossa gente -
Neste credo reverente
Que o Gauchismo gestou.
Os gaúchos do meu Estado
E que a Tradição, ostenta,
É o povo que representa
Este orgulho do passado,
É quem ama andar pilchado,
Sabe verso; cantoria,
- E até arrisca poesia -
Entre chula e sarandeio,
Indo a baile e a rodeio
No FECART e em Vacaria.
Esses gaúchos perdidos
Somos eu, e tantos mais,
São os nossos ancestrais
E os que sequer foram paridos,
Somos filhos esquecidos
Desta original doutrina
E cumprimos nossa sina
De amor e devoção,
Cultuando a Tradição
Aqui em Santa Catarina.