Lá vem o tropeiro!
O tropel na estrada
Da rica mulada
Que traz o cargueiro,
Vem pelo entreveiro
De mato e picada
Fazendo a tropeada,
“Que ofício mais duro!”
Não vê o futuro,
Somente o passado.
De estado em estado
Sem porto seguro.
Lá vem o tropeiro
Com sua mulada!
Na carga atada
Com tento e sovéu...
Seu nome é Miguel
Sua vida é tropear.
Carrega no olhar
A dor do menino
Que cresceu teatino
E hoje é tropeiro:
Ofício estradeiro
Que lhe impôs o destino.
Os jagunços mataram
Seu pai numa encerra,
É órfão de guerra
De lutas passadas.
E trilhando as estradas
Vai levando a tropa,
Na chuva que ensopa
No sol que não erra,
Miguel é a terra
É a força tropeira,
É a alma guerreira
Que morre e não berra.
Vai pelas andanças
De estrada e de pó
Mas nunca anda só
Pelas vizinhanças.
Lhe seguem crianças,
Os cães e o gado,
Destino mapeado
Com sonhos e prendas,
Por chitas e rendas
Em bailes campeiros,
Às vezes potreiros
De alguma fazenda.
Os guris e a prenda
Deixou na tapera,
Na longa espera,
“Mas que triste sina!”
Já nem mais atina
Quantas primaveras
O tempo tempera
No lombo do clima...
Seguindo a rima
Por quem lhe venera,
Se é homem ou fera
Na amarga vindima.
O pingo crioulo
De pêlo encerado,
Vai bem encilhado
É mais um consolo.
No chão de tijolo
De trote picado
Vem bem entonado
No andar soberano,
É o velho “Tobiano”
Parceiro da lida
- No volteio da vida -
É quase que humano.
Por todos os dias
Se vai o tropeiro...
Caminho, carreiro,
Tem suas manias.
Na lenta agonia
De um mundo inteiro,
Seguindo o roteiro
Do seu troperear.
O sonho a embalar
A velha ambição,
De um dia então
Não ir - nem voltar.
Já foi-se no tempo
Das lidas de outrora,
Calçado de esporas
E poncho ao vento.
Dormindo ao relento
Acordando na aurora,
Pelo campo afora
E noite adentro.
Pisar lamacento
Das chuvas de maio,
E o ranger dos balaios,
Num triste lamento.
Me igualo ao tropeiro
Nos tempos de agora...
Também vou embora
Buscando dinheiro,
No ofício campeiro
De ir e voltar!
Pois sei que “chegar”
Pra quem tem onde ir.
- Vou admitir
Só neste contexto -
Que é mais um pretexto
Pra gente partir...