O tropeiro é o viajante
Que desbravou nosso Estado
Tangendo mulas ou gado
Neste andejar diletante...
E é elemento relevante
Exaltado em sua glória
Povoando cada memória
Dos avós de nossos pais
Nestes ciclos ancestrais
Entrelaçados na História.
Nasceu num campo vasto
Sem lugar de procedência
É nativo da querência
E foi criado num basto,
Traz a cultura de arrasto
Pelo andejar das estradas,
E em cada rota marcada
Fez a marcha do progresso
Que permitiu o acesso
Do Rio Grande a Sorocaba.
Pela banda da fronteira
Nas primeiras reduções
Reforçando as pretensões
Das comunas missioneiras,
Uma tropa pioneira
– Sem sinal ou marcação –
Palmilhou a imensidão
Pela pampa americana,
Quando Cristóbal de Orellana
Trouxe o gado pra região.
Então vieram tropeiros
E tropas e corredores,
Trazendo novos valores
Pro garrão sul-brasileiro,
E o biriva se fez posteiro,
De cada povoamento,
Reforçando nesse intento
Do Rio Grande que nascia
Veio abrir Souza Faria
O Caminho dos Conventos.
Na Província Cisplatina
Já há gado em demasia
Nas Missões, nas Vacarias,
- Até em Santa Catarina -
Se a Coroa determina
Dar ao Rei o que é seu,
O governo concebeu
Real rota, alagarda,
Dando lume à nova estrada
De Dom Cristóvão de Abreu.
Pelas trilhas do rincão
Há tantas expedições:
Na Vereda das Missões
E no Passo do Pontão;
Da Guarda do Viamão,
Passo Fundo e Vacaria,
Novo ciclo se inicia,
Pelas rotas e caminhos
De Cruz Alta a Carazinho
E depois Santa Maria.
Assim partiu o tropeiro
Seguindo, Brasil acima,
Conhecendo outro clima
E outro povo brasileiro,
E se tornou o mensageiro
Dos costumes deste chão,
Semeando a tradição
Que renasce aquerenciada
Em cada cuia passada
Na roda de chimarrão.
E nos ficaram de herança
No costume permanente
Dos usos da nossa gente
Que entrecruzam a lembrança
O traje, a prosa, a dança,
E a grandeza de um legado,
No Fandango Sapateado,
Na Chula ou nos Facões,
Que atravessam gerações
Nas festas do nosso Estado.
Na calça de pouco pano,
Bota alta, chapelão,
Na guaiaca de dobrão,
No facão sorocabano,
E no poncho castelhano
Há uma prova identitária
Que compõe a indumentária,
Da velha gesta tropeira
Que ficou pelas fronteiras
Como marca hereditária.
Na paçoca e no assado,
No café e no entreveiro,
No arroz de carreteiro,
Ou no feijão com revirado,
Entre o charque e o guisado
Do espeto à parrilleira,
Há cozinha campeira
Devotada à pecuária
E que surgiu na culinária
Das comitivas tropeiras.
No cerne da nossa gente
Pulsante em cada artéria
O tropeiro é a matéria
Que nos torna diferentes,
É o sinal mais eloquente
Desta nossa identidade,
Escorada na amizade
De um povo abençoado
Que traz o rosto alargado
Num sorriso de humildade.
Assim nasce essa doutrina
Tapada de simbolismo
Que chamamos “tropeirismo”
Na geografia sulina,
É um lunar que não termina
Que a cada dia se expande,
E mesmo que o tempo abrande
Este fato verdadeiro
Se não houvesse tropeiro
Não haveria, Rio Grande!