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N'ALGUMA VOLTA DA ESTRADA

Osmar Antonio do Valle Ransolin

Vencedora da IV Colheita de Versos, na categoria Tema Especial, edição 2021

Ali na volta da estrada,
Num domingo muito cedo,
Vi no meio do arvoredo,
Uma fêmea de onça parda,
Andava na retaguarda,
De alguma espécie de caça,
Campeando a bóia escassa,
De quem vive nos caminhos,
Nesse mundo mesquinho,
Dos que nasceram sem raça.

Andava num passo lento,
Olfateando a imensidade,
Presa na orfandade,
Dos que vivem sem alento,
Buscando na cor do vento,
Qualquer sinal de esperança,
De encontrar paz e bonança,
N’algum lugar intocado,
Onde o progresso é barrado,
E o homem não alcança.

Pra quem já foi rainha

E senhora deste chão,

Hoje foge na escuridão

Da crueldade mesquinha,

Foge da espécie daninha

E da ambição insana,

A parda que foi soberana

Desses campos e invernadas

Vive na curva da estrada

Correndo da raça humana.

Por entre a selva plantada,
Vinha no passo, a baia,
Esperando uma tocaia,
Em cada curva da estrada,
De alguma bala atirada,
Por andar perto da cidade,
Por ambição ou crueldade,
Do homem que é vingativo,
E que encontra mil motivos,
Pra matar a diversidade.

Vinha na curva da estrada,
Uma fêmea de leão-baio,
Vi passar de soslaio,
Como quem segue apressada,
Andava buscando pousada,
Em alguma paragem segura,
Com a inocência das criaturas,
A quem prometemos guarida,
E andam perdendo a vida ,
Nesses tempos de amargura.

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